sexta-feira, 29 de julho de 2011

CFK - A luta pela identidade no seio de um milhão...

Pessoal, és uma entrevista feita ao rapper CFK por dos membros da KazadazRimas, Tião MC, o também jornalista Sebastião Vemba. Mais abaixo o artigo completo, mas não a edição revisada.

Figura da Semana

CFK
Um artista dividido entre o rap e a literatura

Faz da produtora e editora independente Cérebro Records, juntamente com artistas como Kool Klever, X da Questão e Lukeny Bamba, e lançou recentemente a sua primeira obra discográfica intitulada “Um em Um Milhão”, sendo que antes publicou um romance, “Perdidos na escuridão”, que escreveu aos 16 anos.

Cláudio Kiala faz rap há não mais de cinco anos, e teve como influências o grupo angolano “Kalibrados”, e artistas internacionais como Kenye West e Eminem. No entanto, quando começou a cantar passa a ouvir outros nomes como o Conjunto Ngonguenha, Edu ZP e o elenco que participou na mixtape “O Último Samurai Vol I”.

Embora a música nunca tivesse feito parte dos seus planos, CFK sempre foi muito curioso, e como um dos integrantes dos Kalibrados é amigo do seu irmão mais velho, ocorreu-lhe então imitá-lo diante do espelho. “ Eu fazia isso brincando, mas como na altura já escrevia poemas e algumas prosas, a transformação para o mundo do hip-hop foi automática”, revela o rapper.

Sendo assim, fora a paixão que tem pelo rap, e apesar de gostar de rock e bossa nova, CFK nunca se imaginou a cantar outros estilos, mas não se opõe à fusão de estilos musicais. “Sempre existiram fusões, algumas deram certo, outras nem por isso, mas eu acho ser uma questão de gostos. Se não gosta de rap-kuduro, como se chama, não ouça. Perde-se muito tempo em criticar quem faz, e esquece-se de fazer o que realmente é certo”, defende, citando o disco do brasileiro Sérgio Mendes com o grupo norte-americano Black Eyed Peas, em que se mistura o rap com o samba como um dos seus preferidos. “Resultou numa fusão muito bonita”, considera.

Em relação seu trabalho discográfico, questionado sobre se este não merecia mais divulgação em função do seu valor artístico e intelectual, o rapper concorda, alegando que até ao momento tem sido o feito o possível para que mais pessoas o ouçam.
“Sinto que poderia ser feito muito mais, ainda é possível. Não vou atribuir a culpa a ninguém e se tivesse que o fazer atribuiria a mim mesmo. Numa conversa que tive com o Vui Vui, ele disse-me que o meu álbum é na sua opinião um dos melhores de rap em Angola, e que simplesmente ficaria triste se o trabalho morresse sem ser ouvido por mais pessoas. E eu concordo com isso. As pessoas merecem ouvir cada vez mais estilos alternativos, mas a ‘Cérebro’ em si ainda é pequena e fundos nem sempre são suficientes”, desabafa, citando a Internet como um veículo alternativo eficaz.
CFK defendo que, o facto de não se fazer um rap dançante como o que circula pela mídia, não implica que este não possa ser veiculada nestes ciclos, sem que o artista seja obrigado a corromper-se.
“Não sei se muita gente o sabe, mas eu e o X da Questão, com o estilo de música que fazemos, sem precisar alterar o conteúdo, fomos convidados a abrir o Angola Feshion Week de 2009. Não podemos agradar a todos, algumas pessoas mostravam-se não estar a perceber o que se passava, mas recebemos alguns cumprimentos de pessoas mais velhas, o que serve de motivação para continuarmos a fazer as coisas desse jeito. Se acreditamos que o rap pode mudar mentes, então temos que o divulgar cada vez mais”, sustenta, acrescendo que o cantor pode poupar alguns disparates nas músicas para que elas passem na rádio.

O escritor que não gostava de ler

Apesar de sempre gostar de escrever, Cláudia Kiala nunca gostou tanto de ler, sendo que só depois do pai oferecer-lhe o livro ‘Quem me dera ser onda’ de Manuel Rui Monteiro é que passou a ler mais. “Desde então este escritor se tornou na minha influência principal, posso dizer que a partir desse momento começou tudo. Comecei a chatear União dos Escritores Angolanos, e passei a escrever mais ainda”, conta, o escritor que também admira Dan Brown e Paulo Coelho.

Devido a sua pouca bagagem literária, em 2006 Cláudio Kiala viveu uma desilusão ao levar um livro de 96 páginas à União dos Escritores Angolanos. Depois de algum tempo de espera, conta, o então secretário-geral desta academia literária chamou-o e pura e simplesmente o aconselhou a ler mais. “Foi uma decepção muito grande. Ele disse que eu precisava aprender mais. Para muitos isto seria um motivo de desistência, mas pelo contrário continuei a ler e a escrever, até produzir o ‘Perdidos da Escuridão’”, salienta.

A obra retrata a história de um político que por ordem superiores mandou demolir casas num bairro suburbano e quando o povo se apercebeu que ele estava por detrás das demolições, decidiu atacá-lo raptando o seu filho, mas na altura do rapto o rapaz estava com mais dois amigos. Sendo assim, o político vê-se na condição de em 24 horas salvaguardar o seu emprego sacrificando o filho, ou perdê-lo para o rapa, desistindo, deste modo, das demolições.
De salientar que a próxima obra do escritor ser um conto infantil. “O meu pai propôs-me isso, mas à primeira não me mostrei interessado, mas depois aceitei porque acredito que quando criamos o hábito de ler desde criança mais enraizado ele fica em nós. Agradar uma criança com uma história de literatura acaba por ser mil vezes mais gratificante”, argumenta.

Editora online

Cláudio Kiala e um grupo de amigos, dentre eles Kátia do Carmo, a escritora angolana mais nova no momento, têm um projecto de editora virtual onde os escritores que não tenham meios de publicar e imprimir as suas obras vão poder disponibiliza-las num site ou blogue, de modo que o público possa aceder às mesmas. “ O meu livro ‘O Homem que antecipou a sua morte’ acabou por ser um pequeno teste do projecto, e agora será postado por inteiro, e será assim a primeira obra publicada pela nossa editora”, esclarece, acreditando que com essa iniciativa se pode criar um circuito de leitura mais saudável, e as editoras grandes resolverem apostar em alguns dos escritores cujas obras publicarem.