Pessoal, és uma entrevista feita ao rapper CFK por dos membros da KazadazRimas, Tião MC, o também jornalista Sebastião Vemba. Mais abaixo o artigo completo, mas não a edição revisada.
Figura da Semana
CFK
Um artista dividido entre o rap e a literatura
Faz da produtora e editora independente Cérebro Records, juntamente
com artistas como Kool Klever, X da Questão e Lukeny Bamba, e lançou recentemente a
sua primeira obra discográfica intitulada “Um em Um Milhão”, sendo que antes
publicou um romance, “Perdidos na escuridão”, que escreveu aos 16 anos.
Cláudio Kiala faz rap há não mais de cinco anos, e teve
como influências o grupo angolano “Kalibrados”, e artistas internacionais como
Kenye West e Eminem. No entanto, quando começou a cantar passa a ouvir outros nomes como
o Conjunto Ngonguenha, Edu ZP e o elenco que participou na mixtape “O Último
Samurai Vol I”.
Embora a música nunca tivesse feito parte dos seus
planos, CFK sempre foi muito curioso, e como um dos integrantes dos Kalibrados
é amigo do seu irmão mais velho, ocorreu-lhe então imitá-lo diante do espelho.
“ Eu fazia isso brincando, mas como na altura já escrevia poemas e algumas
prosas, a transformação para o mundo do hip-hop foi automática”, revela o
rapper.
Sendo assim, fora a paixão que tem pelo rap, e apesar de
gostar de rock e bossa nova, CFK nunca se imaginou a cantar outros estilos, mas
não se opõe à fusão de estilos musicais. “Sempre existiram fusões, algumas
deram certo, outras nem por isso, mas eu acho ser uma questão de gostos. Se não
gosta de rap-kuduro, como se chama, não ouça. Perde-se muito tempo em criticar
quem faz, e esquece-se de fazer o que realmente é certo”, defende, citando o
disco do brasileiro Sérgio Mendes com o grupo norte-americano Black Eyed Peas,
em que se mistura o rap com o samba como um dos seus preferidos. “Resultou numa
fusão muito bonita”, considera.
Em relação seu trabalho discográfico, questionado sobre
se este não merecia mais divulgação em função do seu valor artístico e
intelectual, o rapper concorda, alegando que até ao momento tem sido o feito o
possível para que mais pessoas o ouçam.
“Sinto que poderia ser feito muito mais, ainda é
possível. Não vou atribuir a culpa a ninguém e se tivesse que o fazer
atribuiria a mim mesmo. Numa conversa que tive com o Vui Vui, ele disse-me que
o meu álbum é na sua opinião um dos melhores de rap em Angola, e que
simplesmente ficaria triste se o trabalho morresse sem ser ouvido por mais
pessoas. E eu concordo com isso. As pessoas merecem ouvir cada vez mais estilos
alternativos, mas a ‘Cérebro’ em si ainda é pequena e fundos nem sempre são
suficientes”, desabafa, citando a Internet como um veículo alternativo eficaz.
CFK defendo que, o facto de não se fazer um rap dançante
como o que circula pela mídia, não implica que este não possa ser veiculada
nestes ciclos, sem que o artista seja obrigado a corromper-se.
“Não sei se muita gente o sabe, mas eu e o X da Questão,
com o estilo de música que fazemos, sem precisar alterar o conteúdo, fomos
convidados a abrir o Angola Feshion Week de 2009. Não podemos agradar a todos,
algumas pessoas mostravam-se não estar a perceber o que se passava, mas
recebemos alguns cumprimentos de pessoas mais velhas, o que serve de motivação
para continuarmos a fazer as coisas desse jeito. Se acreditamos que o rap pode
mudar mentes, então temos que o divulgar cada vez mais”, sustenta, acrescendo
que o cantor pode poupar alguns disparates nas músicas para que elas passem na
rádio.
O
escritor que não gostava de ler
Apesar de sempre gostar de escrever, Cláudia Kiala nunca
gostou tanto de ler, sendo que só depois do pai oferecer-lhe o livro ‘Quem me
dera ser onda’ de Manuel Rui Monteiro é que passou a ler mais. “Desde então este
escritor se tornou na minha influência principal, posso dizer que a partir
desse momento começou tudo. Comecei a chatear União dos Escritores Angolanos, e
passei a escrever mais ainda”, conta, o escritor que também admira Dan Brown e
Paulo Coelho.
Devido a sua pouca bagagem literária, em 2006 Cláudio
Kiala viveu uma desilusão ao levar um livro de 96 páginas à União dos
Escritores Angolanos. Depois de algum tempo de espera, conta, o então
secretário-geral desta academia literária chamou-o e pura e simplesmente o
aconselhou a ler mais. “Foi uma decepção muito grande. Ele disse que eu
precisava aprender mais. Para muitos isto seria um motivo de desistência, mas
pelo contrário continuei a ler e a escrever, até produzir o ‘Perdidos da
Escuridão’”, salienta.
A obra retrata a história de um político que por ordem superiores
mandou demolir casas num bairro suburbano e quando o povo se apercebeu que ele
estava por detrás das demolições, decidiu atacá-lo raptando o seu filho, mas na
altura do rapto o rapaz estava com mais dois amigos. Sendo assim, o político vê-se
na condição de em 24 horas salvaguardar o seu emprego sacrificando o filho, ou
perdê-lo para o rapa, desistindo, deste modo, das demolições.
De salientar que a próxima obra do escritor ser um conto
infantil. “O meu pai propôs-me isso, mas à primeira não me mostrei interessado,
mas depois aceitei porque acredito que quando criamos o hábito de ler desde criança
mais enraizado ele fica em nós. Agradar uma criança com uma história de
literatura acaba por ser mil vezes mais gratificante”, argumenta.
Editora
online
Cláudio Kiala e um grupo de amigos, dentre eles Kátia do
Carmo, a escritora angolana mais nova no momento, têm um projecto de editora
virtual onde os escritores que não tenham meios de publicar e imprimir as suas
obras vão poder disponibiliza-las num site ou blogue, de modo que o público
possa aceder às mesmas. “ O meu livro ‘O Homem que antecipou a sua morte’
acabou por ser um pequeno teste do projecto, e agora será postado por inteiro,
e será assim a primeira obra publicada pela nossa editora”, esclarece,
acreditando que com essa iniciativa se pode criar um circuito de leitura mais
saudável, e as editoras grandes resolverem apostar em alguns dos escritores
cujas obras publicarem.
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